BMW F 900 GS Rally De volta às raízes na terra – Quando se fala em motos BMW, muita gente pensa em tecnologia, sofisticação e longas viagens pelas estradas da Europa. Mas há uma forte linhagem no fora de estrada que pode estar ressurgindo.
Protótipo da BMW F900 GS Rally
Dentro dos corredores da BMW Motorrad, especialmente na sala de Christof Lischka — chefe de desenvolvimento de veículos e fanático por trilhas — há um símbolo que desafia a ideia de que BMW é uma moto apenas para viagens e asfalto: a última BMW bicilíndrica oficial do Dakar, criada em 2001 para Nani Roma, está bem ali, decorando a parede. Com essa relíquia te encarando diariamente, fica difícil não sonhar em reviver os bons tempos do off-road pesado na marca bávara.
E talvez tenha sido essa a inspiração que deu vida à nova BMW F 900 GS Rally, apresentada na primavera de 2024. Uma moto que, finalmente, trouxe de volta o espírito aventureiro e trilheiro que parecia adormecido nas versões anteriores da linha intermediária da marca. Apesar de ainda um pouco pesada, ela chegou com um equilíbrio surpreendente e um motor ágil que arrancou sorrisos até dos mais exigentes.
Enquanto isso, do outro lado da Baviera, Maxi Schek — neto do lendário Herbert Schek — também sonhava alto para reviver este modelo. Afinal, a família que tem a areia do Dakar no sangue: mãe, tia, avô… todos viveram o mundo das competições. Maxi, que venceu a edição 2023 do Campeonato Alemão Cross Country com uma F 850 GS, não perdeu tempo. Mal a F 900 GS foi anunciada e ele já estava transformando a sua unidade em uma máquina de competição para a temporada de 2024.
Com um garfo WP de 48 mm e curso de 270 mm na dianteira, sua versão ficou pronta para encarar as trilhas mais bravas. Maxi não quis só uma rally bike: ele queria uma big trail bruta, focada em desempenho puro na terra.
Lá na fábrica da BMW Motorrad, Lischka também colocou sua equipe para brincar de Lego com a BMW F 900 GS Rally. O objetivo? Criar uma versão digna dos velhos tempos, algo que pudesse ser pilotado pelo especialista em enduro extremo Gerhard Forster. Essa versão teve um foco mais equilibrado, voltado para longas etapas de rali.
Começaram cortando peso: escapamento Akrapovič em titânio, retirada de ABS, suporte de garupa, filtros… tudo que não fazia falta foi embora. Rodas Excel 21/18 com um disco só na dianteira, suspensão ajustada pela Zonenstern, nova torre de navegação em alumínio e pronto: uma BMW F 900 GS Rally enxuta com cara de guerreira.
O desafio: praia, montanha e poeira
O primeiro encontro das duas máquinas aconteceu em uma praia na Sicília — quase poético. A moto de Maxi, com 445 libras e distribuição de peso mais traseira, era ágil como uma enduro leve. Já a de Forster, com 465 libras e mais peso na frente, mostrava estabilidade e conforto em longas distâncias.
Na trilha, Maxi voava. A suspensão firme engolia pedras, valas e costelas de vaca como se fossem nada. A sensação era de invulnerabilidade — algo raro em motos desse porte. Porém, faltava um pouco de controle no guidão nas frenagens mais bruscas, já que ele removeu o amortecedor de direção.
A versão de Forster era mais contida. O guidão mais alto, pedaleiras mais baixas e uma suspensão mais macia deixavam claro: essa moto foi feita para dias longos de rali, não para explosões rápidas em trilhas técnicas. Em alta velocidade na terra, o controle e a estabilidade da frente impressionavam.
Detalhes que fazem diferença
Ambas as motos mantiveram partes visuais originais da BMW F 900 GS Rally, como carenagens e grafismos, o que disfarça toda a engenharia pesada que aconteceu nos bastidores. Mas para quem conhece, basta olhar para a dianteira e ver o novo conjunto de suspensão ou o skidplate de alumínio para saber que ali tem coisa séria.
Apesar de seus estilos diferentes, ambas as versões mostram o potencial esportivo da nova plataforma da BMW. Mesmo com a Schek-bike ainda sendo cerca de 20 kg mais pesada que uma Aprilia Tuareg de rali, o desempenho e a diversão estão garantidos.
O quê o futuro promete?
Tudo indica que esse renascimento do espírito off-road na BMW pode estar só começando. Seja pelas mãos de engenheiros apaixonados como Lischka ou pilotos com sobrenome de peso como Schek, a BMW F 900 GS Rally está sendo transformada em algo que vai muito além de uma aventureira de showroom.
O tempo dirá se veremos uma versão oficial de fábrica nas competições internacionais — ou até mesmo um novo projeto Dakar. Mas uma coisa é certa: o espírito das trilhas voltou com tudo para Munique.